terça-feira, 23 de julho de 2013

Sua pele branca, cabelos não muito escuros, nem muito cumpridos, lábios carnudos, olhos que me dizem tudo. Desejo. Leio perfeitamente isso, mas não é preciso muito para se saber. Ela morde os lábios enquanto me olha, e sinto um certo nervosismo em sua face. A respiração também está mudando, um pouco ofegante. Um sorriso malicioso fez com que eu perdesse a razão, não consigo me segurar nem por um segundo a mais... O beijo é a faísca que faltava para que incendei todo o nosso corpo. E ele é só a entrada para um mundo de prazer. 
Os movimentos involuntários de nossas mãos estão sendo quase impossíveis de serem controlados. A cada toque a temperatura só aumenta, e deixam um rastro que queima, e nos faz gemer. Um arrepio toma conta de todo o meu corpo, ele me diz o que já estou dizendo a algum tempo: " Não pare!".
Ela, como se estivesse lendo meus pedidos em minha mente, atende a cada um deles... A cama nos acomoda, o lugar perfeito pra colocar em pratica tudo aquilo que desejamos.
Cada obstaculo é retirado com delicadeza, deixando o prazer cada vez mais intenso. Murmurros, arranhões, e suspiros são constantes, os sentidos estão mais aguçados. 
Tocando-a consigo sentir perfeitamente seu corpo a me responder, nossos corpos estão conversando, e se entendem perfeitamente. 
Um gemido alto nos arrepia simultaneamente, é sua linguá a me tocar. Meu corpo responde logo, pulsando... Percebendo constantemente os efeitos de seus toques, atende mais uma vez aos meus pedidos. "Vou..." outro gemido quebra o silêncio naquele minusculo comodo. O clímax. Deixo meu corpo dizer por mim durante alguns instantes, quero curtir esse momento.
Ela me olha de um jeito singelo, e sorri como da primeira vez. Atendo o seu pedido, como se fosse gratidão pelo que eu acabei de sentir. Vejo que a simultaniedade dos nossos corpos continua. Um simples toque, um gemido, seu corpo me responde pulsando. A cada toque a resposta é cada vez mais intensa. Arranhões, mordidas, toque simultâneos... Sinto como se estivéssemos numa sincronia excitante. O calor dos nossos corpos intensifica, o toque é mais constante, mimos e retribuições de carinho. Seu gemido soou como musica em meus ouvidos, seu corpo me dizendo que este é seu limite, o clímax. 
Deitadas, um sorriso aliviado, contente e satisfeito. Poupamos as palavras, um suspiro disse mais do que o suficiente. 

_Larissa A.
Sim eu admito, eu me torturo. E isso acontece diariamente, 24h por dia. Não sou sado masoquista, não faço porque quero, ou faço, eu não sei. Mas isso virou rotina. De alguma forma que eu não sei explicar, eu a envolvo em minha vida. Eu admito também que as vezes faço de proposito, ou por não ter o que fazer mesmo. Sentar no sofá e me encolher por alguns instante, voar para longe, encontra-la, fazer a minha fantasia. Em poucos minutos eu caio na real, sim doí. Estava tudo tão perfeito, eu havia esquecido de muitas coisas e... a realidade é cruel. Não, eu sou cruel. 

_Larissa A.
A nostalgia deu pra tomar conta de mim. Sentir seu perfume é quase uma rotina, me arrepiar então... A saudade apenas aumenta, segundo após segundo. Me lembro do seu rosto, de cada detalhe, do seu sorriso, do tom da sua voz... De como era bom me aconchegar em seus braços, respirar fundo e sentir seu cheiro, te olhar, te beijar, ser sua.
Tudo que eu sempre quis, enfim consegui. Um beijo, seu toque, a sua atenção. Mas... fui tola, não lhe mostrei quem sou eu, não me doei por inteiro a você e você se foi. Sinto como se cada vez você estivesse mais e mais longe, como se você estivesse se esquecendo de mim. Será? 
Essas são as tolisses que passam em minha mente quando falam de você, ou quando escuto aquela batida que faz com que o turbilhão de lembranças voltem. É um ciclo vicioso, eu preciso de você. 

_Larissa A.

Olhe nos meus olhos, você verá tudo que precisa.

Palavras embaralhadas, jogadas num texto sem sentido, pra você, não pra mim. Só eu me entendo, somente eu. Confesso que estou cansada do meu eu. Ando sem rumo, na tentativa de conseguir me livrar de mim, infelizmente, é totalmente em vão. Minha válvula de escape não funciona mais, pra onde vou correr agora?
Você disse que estaria aqui, pra me confortar em seus braços, disse que me traria paz. Estou perdida, com medo, e precisando de você...

_Larissa A.
Partiu
Me partiu,
levou o que restou de nós
em uma pá,
como os restos daquele
velho porta-retrato
que carregara uma tonelada
de lembranças.
E agora?
Palavras são poeiras,
poeira não me faz bem,
você faz.
Não deveria lhe escrever
mas é instinto,
assim como acordar pela manhã
e te procurar na cama.

_Larissa A.
[...] Acordei ansiosa na manhã seguinte, mal consegui tomar café, eu mal me reconhecia. Sorri ao lembra que no meio da tarde encontrarei minha... Minha? Desviei esse pensamento, não posso chama-la de minha, mal a conheço, como sou tola. Segui minha rotina quase que a risca, parei no meio do caminho apenas pra comprar seu doce preferido, gosto de vê-la sorrir. O sorriso não sai de meu rosto no caminho da praça, mas não demora muito pra ele partir.
Amassei completamente o saquinho de doces, numa tentativa involuntária de extravasar meus sentimentos. Respirei fundo, coloquei o saquinho de doces em meu bolso e caminhei lentamente até o que eu acabara de ver.

— Oi Laura! Esse aqui é o Guto, meu namorado.
Um sorriso forçado e amarelado surgiu em minha face, não compreendi minha reação, não consegui distinguir meus sentimentos naquele momento. 
— E aí, beleza?
Com essa pequena frase consegui ver que ele é um tremendo idiota, seu olhar sarcástico e seu sorriso irônico me enojaram. O comprimente mesmo assim, afinal ele é namorado dela, logo ele a faz feliz. Será? 
Reparei em cada detalhe, nele, nela, neles. Deduzi muita coisa, estou sofrendo por ela.


_Larissa A.
Avisto de longe o meu lugar preferido, no meio daquela praça bem movimentada no centro da cidade. Uma moça com um olhar familiar estava lá, só, me aproximo e a escuto sussurrar:
— Saudade daqueles tempos que não voltam mais... 
— Falando sozinha? - Sentei-me ao seu lado
— Sabe quando o coração fala mais alto do que qualquer coisa? Então...
— Quer conversar? - Perguntei quase involuntariamente.
Ela cita uma data, 20 de novembro, uma data na qual atribui muitas lembranças. A ouço falar, mas não escuto as palavras, viajo em minhas próprias memórias.
“20 de novembro de 1989,
Completava um ano de namoro. A popular e o capitão do time, um namoro perfeito. Porém não, ele esqueceu mais uma data, caminhei até a praça e sentei-me no meu lugar preferido, no banco branco perto da gangorra e de frente pro nascer da lua. Observava atentamente todos que passavam, me concentrava para não deixar cair nenhuma lágrima, estava totalmente distraída quando um gato se aconchega nos meus pés, me abaixo para acaricia-lo e percebo que passei muito perfume, o gato correu. Observo uma menina, sentada sozinha em um arvore me olhando atentamente, como se estivesse fotografando-me, chega mais perto.
— Oi
A vi sem palavras, me encarando como se eu fosse algo intocável, meu coração palpitava e não sabia o que estava acontecendo.
— Sente-se aqui do meu lado, vamos conversar.
Nossos dedos se encostaram quase sem querer e um arrepio atravessou minha espinha. Conversamos por horas, um futuro estava sendo escrito.”



- Berikaf
— Saudade daqueles tempos que não voltam mais... - sussurrei
— Falando sozinha? - sentou-se do meu lado 
— Sabe quando o coração fala mais alto do que qualquer coisa? Então...
— Quer conversar?

20 de setembro de 1989

Mais um dia comum pra mim, pelo menos era pra ser. Fiz as mesmas coisas de sempre, fui a escola, tomei sorvete, e como sempre fui a praça me desligar um pouco desse mundo tão diferente de mim. Sentei-me no mesmo lugar de sempre, peguei meu caderno e minha caneta azul escura, mas havia algo diferente ali, eu não sabia o que era, mas já ia descobrir. Olhei em volta, olhei pra cima, pra trás, pra todos os lados, não vi nada de mais. Tentei voltar a me concentrar, sem êxito. Fechei o caderno e os olhos, respirei fundo e um perfume doce invadiu meu ser, me arrepiei e logo abri os olhos. Não acreditava naquilo que estava vendo, tão linda, tão eu. Eu só poderia estar ficando louca né? Apreciando uma menina... Será que agora conseguirei me concentrar? Abri novamente o caderno, mas da caneta não saiu nada. Meus olhos não desgrudavam daquela moça, seu cheiro estava grudado em minhas narinas. Mas, afinal, qual o problema d'eu me encantar por uma moça?

— Oi.
Aquele olhar foi a resposta de qualquer pergunta que eu viesse a fazer. Não sei como, não sei porque. Mas ele me respondeu tudo, mesmo sem saber o que eu havia perguntado. Ou se eu ia perguntar. Novamente um arrepio.
— Sente-se aqui do meu lado, vamos conversar.
Mesmo sem saber o que falar, eu me sentei e como um piscar de olhos a conversa fluiu, eu sorri a tarde toda. Marcamos de nos encontrarmos novamente no dia seguinte, espero que ela use aquele perfume. Estou viciada.



_Larissa A.